Aos 60 anos recém-completados, a fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP) ainda esbanja imponência. Seus enormes galpões com acabamento de tijolinhos impressionam quem passa pela rodovia Anchieta.
Dentro de uma deles, em uma sala sem qualquer indicativo, no meio da Ala 5, está guardada parte da rica história de seis décadas da unidade – que foi a primeira fora da Alemanha, país sede da Volkswagen.
Na sala de piso cinza e paredes brancas e creme, estão cerca de 20 modelos que fazem parte de uma coleção de clássicos da Volkswagen.
Essa é a primeira vez que a Volkswagen abre as portas do local para a imprensa. Ali, porém, só está uma pequena amostra da coleção informal, mantida com muito cuidado e carinho pelo departamento de engenharia da empresa.
Ali estão raridades, como os protótipos Vemp e BY, além da primeira unidade do Polo produzida no Brasil, em 2003, e da última Kombi, de 2013. O G1 listou abaixo os modelos mais legais mostrados pela Volkswagen:
O projeto BY nasceu nos anos 1980 para ser um veículo de entrada da Volkswagen, abaixo do Gol (que tinha codinome BX) – um “tio” do Up, fazendo uma comparação moderna.
A solução foi aproveitar tudo do Gol da porta do motorista para frente. De lá para trás, a carroceria era bem mais compacta.
Para melhorar o espaço para os passageiros, o banco traseiro podia correr sobre trilhos, para aumentar a área para as penas. Tal solução foi adotada duas décadas depois, pelo Fox.
Um dos problemas do BY foi o design. Como era muito curto, mas aproveitava a grande dianteira do Gol, as linhas ficaram desproporcionais.
Além disso, soluções como o teto sem calha e a suspensão refinada do Voyage de exportação (chamado de Fox), deixaram o custo do BY muito próximo ao do Gol, causando o cancelamento do projeto em 1987.
O BY exposto nesta quinta-feira é o filho único deste projeto. Apenas esse exemplar resistiu ao tempo. O mesmo vale para o próximo veículo da lista, outro protótipo que nunca chegou às ruas.
O Vemp foi desenvolvido no início dos anos 1970, para participar da concorrência para o fornecimento de veículos para o exército brasileiro. Seu nome significa “Veículo Militar Protótipo”.
As exigências eram ter tração 4×4 e capacidade para puxar 500 kg de carga. O Vemp acabou não sendo escolhido pelo exército, e virou carro de serviço da fábrica.
Depois de ser recuperado, foi totalmente desmontado. Para a restauração, a equipe usou fotografias de época. Hoje, tem bancos do Fox e motor 1.6 da Kombi.
Até hoje, o SP1 é considerado, junto como SP2, um dos carros mais bonitos já produzidos pela Volkswagen, inclusive sendo cultuados no exterior. Isso porque são projetos brasileiros, produzidos exclusivamente na fábrica de São Bernardo.
A unidade do acervo da marca é do SP1, o mais raro da dupla. Enquanto o SP2 teve cerca de 11 mil unidades produzidas, menos de 100 exemplares do SP1 ganharam às ruas.
Em 2013, a Kombi deixava de ser produzida no Brasil, depois de várias décadas. O último exemplar que saiu da linha acabou indo direto para a coleção de clássicos da Volkswagen.
Ainda que tenha pouco mais de seis anos de vida, pode ser considerada um dos modelos mais importantes do acervo, já que, depois dela, nenhuma outra Kombi foi montada no Brasil. Além dessa unidade, para passageiros, a coleção também conta com o último furgão montado no país.
Nos anos 1970, o Passat foi considerado uma revolução na história da Volkswagen, principalmente por ser o primeiro carro da marca com motor refrigerado a água. Ele chegou ao Brasil em 1974, um ano depois do lançamento na Europa.
Durante mais de uma década, foi produzido no Brasil. A unidade exposta pela Volkswagen é uma das últimas a sair da unidade do ABC Paulista, em 1988.
Ela é da versão esportiva GTS Pointer, e saiu da linha de produção já para compor a coleção da empresa.
Esta unidade, inclusive, rodou menos de 500 km. Ela até recebeu uma proposta de compra de R$ 500 mil de um colecionador. Só que não foi aceita pela Volks.
Como não poderia deixar de ser, a coleção da Volks tem vários Fuscas, líder de mercado por 24 anos, e com produção ininterrupta de 1959 a 1986. Depois, voltaria, com uma segunda edição, de 1993 a 1996.
Na exibição desta quinta-feira, a Volks mostrou duas unidades. Uma delas, de 1986, foi das últimas a sair da linha de produção na primeira fase.
A segunda, de 1993, é conversível, e foi preparada especialmente para o evento de celebração da volta do Fusca.
A Volkswagen do Brasil não tem um museu oficialmente constituído. O acervo possui 98 veículos, distribuídos em várias salas como a da Ala 5, espalhadas pelo enorme terreno da fábrica Anchieta.
Quem cuida dos carros é José Loureiro, chefe de engenharia da empresa, junto com uma equipe responsável pela restauração e manutenção.
“Comecei a cuidar da coleção em 2004. Mas ela é bem mais antiga. Um foi passando para o outro. Recebi muitos carros encostados, sujos. Aos poucos, fomos restaurando”, conta Loureiro.
Dos quase 100 carros, cerca de metade estão em condições “apresentáveis”, como definiu Loureiro. Os demais estão em fila para restauração. A meta informal é tentar cuidar de um a dois carros, por ano.
“Não levamos nenhum carro para fora. Tudo é feito aqui dentro da fábrica”, conta Rodrigo Purchio, gerente de marketing da Volkswagen, sobre o processo de restauração.
Todo o processo ainda é informal. Mas, a ideia é que isso mude nos próximos anos.
O objetivo, no futuro, é ter um museu para exibir os carros da Volkswagen, como já existe na sede da empresa, em Wolfsburg, na Alemanha. “Esse evento de hoje é a primeira semente”, concluiu.
Para o bem da história do automóvel no Brasil, é bom que essa semente dê frutos logo.
Fonte: Auto Esporte